sábado, 12 de setembro de 2020

Por que ensinar voleibol?

Uma das primeiras perguntas que eu me fiz quando comecei a dar aulas de vôlei foi: "Por que ensinar voleibol?". Quando nós fazemos essa pergunta nós estamos refletindo sobre os motivos, propósitos, objetivos e finalidades  de ensino, aspectos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer pedagogia, independentemente da modalidade esportiva. 

Para responder mais a fundo esta questão, quero compartilhar com vocês minha história no voleibol e os motivos que me levaram a praticar essa modalidade. Eu comecei a praticar voleibol na escola com 11 anos de idade por meio de um amigo meu. Era uma escola particular de médio porte e a turma era pequena (cerca de 10 alunos), mista, a maioria eram meus colegas de classe. Além do vôlei, eu também praticava futsal e basquetebol na escola (5 dias na semana!). A lembrança mais marcante das aulas de voleibol era o fato de encontrar meus amigos para jogar. Nós queríamos jogar! O jogo era atrativo, dinâmico, desafiador, prazeroso. O voleibol nos conquistou de tal forma que nós continuamos a praticar até os 15 anos de idade e só paramos quando nosso professor saiu da escola e as aulas de vôlei acabaram. Nós nunca chegamos a competir em campeonatos como os jogos escolares, apenas me recordo de dois amistosos que fizemos com outra sede do colégio. Apesar disso, eu carrego o voleibol na minha vida, seja na vida pessoal, profissional ou no lazer. Enfim, o que eu quero destacar com a minha breve trajetória são os motivos, desejos e interesses dos alunos na prática esportiva. Os motivos e as finalidades dos alunos em relação à prática de um determinado esporte são diversos e devem ser levados em consideração ao se estabelecer os propósitos de ensino da modalidade. É muito comum o professor não considerá-los e colocar suas expectativas de técnico/treinador sobre eles, gerando uma cobrança excessiva sobre os alunos e o abandono precoce do esporte. 

Mas então, o professor deve deixar de lado suas expectativas e atender apenas os interesses dos alunos? Lógicamente não. O professor tem seus próprios interesses, geralmente oriundos das experiências pessoais e profissionais com a modalidade esportiva, que devem ser considerados no processo. Os interesses dos professores podem ser os mais diversos possíveis: ganhar campeonatos, conquistar títulos, promover atletas, promover-se, mas também, contribuir para a formação humana, desenvolver valores, promover a prática esportiva, a modalidade, a saúde, a qualidade de vida etc. Longe de estabelecer um juízo de valor, todos os interesses citados anteriormente são legítimos, contanto que eles não sejam contrários à filosofia do professor/treinador e aos interesses dos alunos. Nesse sentido, é necessário encontrar um equilíbrio entre as expectativas do professor/treinador e os interesses dos alunos em relação à pratica esportiva.

Um terceiro elemento a ser considerado é a natureza da instituição que oferta a prática do esporte. O voleibol é uma modalidade com  grande expressividade no cenário esportivo brasileiro e mundial e é praticado por diferentes tipos de pessoas em vários contextos: escolas, clubes, projetos sociais, ONGs etc. Essas instituições e grupos tem estruturas, finalidades, expectativas, metas e objetivos distintos. Na escola, por exemplo, a prática esportiva pode ter como objetivo a formação de equipes para representar a instituição em competições ou simplesmente ser um meio de apropriação do fenômeno esportivo nas aulas de educação física e/ou escolinhas de esportes. Em clubes, os objetivos geralmente estão relacionados à formação de atletas e à conquista de títulos. Em projetos sociais e ONGs, os objetivos estão relacionados ao acesso à prática esportiva, ao desenvolvimento humano, ao lazer, à qualidade de vida, entre outros. É muito comum encontrarmos finalidades de ensino que destoam de seus cenários de prática, como se a prática esportiva fosse homogênea em todos os lugares. Contudo, o fenômeno esportivo, nos últimos anos, tem se mostrado cada vez mais heterogêneo, plural e multifacetado. Por isso, compreender esses cenários, seus personagens, significados e finalidades é fundamental para estabelecer objetivos adequados.

Concluindo, os interesses dos alunos, as expectativas do professor e as características e finalidades da instituição que oferta a prática esportiva são alguns elementos que devem ser considerados ao se estabelecer os motivos, propósitos, finalidades e objetivos de ensino de uma determinada modalidade esportiva, neste caso, do voleibol. 

Espero que esse post tenha esclarecido alguns pontos importantes relacionados a essa questão e contribuído para que você possa refletir sobre ela e encontrar uma resposta condizente com a sua realidade. 

Até uma próxima!

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O processo de aprendizagem do voleibol

O voleibol é considerado uma modalidade esportiva de aprendizagem complexa. Segundo Mesquita (1996), algumas das exigências impostas aos jogadores durante o jogo são: o olhar dirigido para cima, os contatos breves com a bola, a precisão técnica no contato com a bola para evitar o erro, o condicionamento das ações devido ao número limitado de contatos por equipe, a rapidez de análise e decisão, a movimentação condicionada nos planos frontal e lateral e a diferenciação de funções devido à rotação dos jogadores. Essas exigências imprimem uma série de dificuldades ao longo do processo de aprendizagem do voleibol. Vamos identificar algumas delas.

A primeira dificuldade encontrada no início do processo de aprendizagem do voleibol é manter a bola em jogo (rally). No voleibol, diferentemente dos esportes coletivos de invasão, não é possível reter a bola para si, o que dificulta a leitura do jogo e o controle da bola no ar. Aliado a isso, o sistema de pontuação é por rally. Isso significa que qualquer erro de um jogador ou da equipe confere o ponto ao adversário e interrompe o rally, gerando uma quebra frequente do fluxo de jogo. Essa quebra é altamente desmotivante e por isso deve ser minimizada no início do processo de aprendizagem para que os alunos possam apreciar o jogo e ter êxito. Em outras palavras, quanto mais tempo a bola ficar no ar, melhor. Para isso, o professor pode lançar mão de estratégias como a diminuição do tamanho da quadra, da rede, da bola, do número de jogadores e permitir que os alunos segurem a bola nos diferentes momentos do jogo até que eles desenvolvam os gestos técnicos do toque e da manchete e consigam controlar a bola no ar sem precisar segurá-la. É importante esclarecer que o erro deve ser minimizado e não extinto do processo. Errar faz parte da aprendizagem. Nesse sentido, cabe ao professor optar por estratégias condizentes com sua realidade e adequar as tarefas conforme as potencialidades e necessidades de seus alunos.

Uma segunda dificuldade encontrada durante o processo está relacionada ao fato das habilidades do voleibol serem consideradas não naturais ou construídas. A maioria delas é executada fora do plano familiar de manipulação dos objetos (planos baixo e alto) e exigem a adoção de posturas básicas fundamentais e movimentações específicas, o que as caracteriza como habilidades seriadas e complexas. Nesse sentido, é necessário um longo processo de aprendizagem para cada uma delas. Além disso, o voleibol é uma modalidade com habilidades motoras predominantemente abertas, ou seja, o ambiente está em constante mudança, fazendo com que os jogadores tenham que adaptar ou ajustar os movimentos e/ou respostas para atingir seus objetivos. Os jogadores precisam perceber as informações relevantes do ambiente, tomar decisões de forma rápida, servindo apenas do tempo em que a bola se encontra no ar, escolher a habilidade a ser utilizada para resolver o problema e executá-la proeficientemente. Nesse sentido, além do desenvolvimento dos aspectos técnicos (eficiência e eficácia), é imprescindível desenvolver os aspectos relacionados à tática (ajustamento e tomada de decisão) para um bom desempenho no jogo.

Outra dificuldade do processo de aprendizagem é a necessidade de organizar e gerir o espaço de jogo, juntamente com os companheiros de equipe, identificando as responsabilidades e funções em quadra conforme as posições. É comum alunos iniciantes adotarem uma postura estática em quadra e não irem ao encontro da bola (jogo estático), ou até mesmo, buscarem intempestivamente a bola (jogo anárquico) sem nenhum tipo de relação no espaço. Nesse sentido, o posicionamento em quadra, a identificação das zonas de responsabilidade e de conflito e as ações sem bola são aspectos fundamentais que precisam ser trabalhados desde o início do processo para que os alunos desenvolvam uma boa relação no espaço e tenham qualidade nas ações.

Para superar todas essas dificuldades, o professor/treinador deve elaborar estratégias para facilitar e otimizar a aprendizagem. Nesse sentido, as tarefas propostas nas aulas devem ser representativas em relação ao jogo e ajustadas ao nível do aluno, possibilitando o desenvolvimento adequado dos aspectos técnico-táticos do voleibol ao longo do processo. 

Referências

MESQUITA, I. O ensino do voleibol; uma proposta metodológica. In: GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. (Org.). O ensino dos jogos desportivos coletivos. Porto: FCDEF-UP, 1996. p.157-203.

O Jogo de Voleibol

Você saberia caracterizar o jogo de voleibol? 

Certamente, essa não é uma pergunta fácil de responder, porém é de suma importância refletirmos sobre ela. A nossa concepção sobre o jogo influencia o modo como aprendemos, ensinamos, conversamos e praticamos voleibol.

O voleibol pode ser caracterizado como um esporte coletivo de não-invasão, no qual duas equipes, separadas por uma rede divisória na quadra, buscam enviar a bola sobre a rede para o solo da quadra adversária com a finalidade de obter o ponto e impedir que a bola caia na sua própria quadra (COLLET et al, 2007). Ele pode ser classificado também como um esporte de rede/parede que tem como lógica interna comum: rebater a bola/implemento para os espaços da quadra adversária de forma a marcar o ponto ou dificultar a devolução da mesma pelo adversário (GINCIENE & IMPOLCETTO, 2019; GONZALEZ et al, 2014). 

Em relação às regras, não é permitida a retenção da bola, o que faz com que os jogadores realizem contatos breves com ela (rebater/volear), limitados a três toques por equipe, de forma alternada entre os jogadores, sem a interferência direta do adversário. O único momento do jogo em que é permitido a "posse" da bola é o saque. No momento da realização do saque, as equipes devem respeitar o rodízio e as posições relativas em quadra. O jogo possui um sistema de pontuação limite no qual os jogadores devem conquistar os pontos para ganhar os sets e a partida, sendo que qualquer erro cometido por um jogador ou pela equipe é convertido em um ponto para o adversário.

Uma característica que diferencia o voleibol de outros esportes de rede/parede é a possibilidade de passar a bola aos companheiros de equipe antes de enviá-la à quadra adversária. Nesse sentido, ele possui interações de cooperação e oposição (GONZÁLEZ, 2004). As equipes buscam construir o ataque com os três toques e enviar a bola aos espaços da quadra adversária, enquanto que na defesa, elas buscam ocupar os espaços e impedir que a bola caia na própria quadra. 

Outra característica importante do voleibol é a sua natureza sequencial e cíclica. O jogo é caracterizado por um encadeamento de ações: após o saque de uma equipe, ocorre a recepção, o levantamento, o ataque, o bloqueio, a defesa, o contra ataque, uma nova defesa, um novo contra ataque, e assim por diante, até que alguma equipe conquiste o ponto ou cometa algum erro. Percebe-se que esse encadeamento evidencia uma interdependência de ações, ou seja, uma ação influencia outra. Nesse sentido, Souza (1996) define os momentos que compõem o jogo de voleibol em: ataque inicial (saque), ataque construído (recepção, levantamento e ataque), defesa (bloqueio e defesa) e contra ataque construído (levantamento e ataque). 

A partir dessas considerações iniciais é possível ter uma noção sobre as características do jogo de voleibol. Tenho certeza que compreender bem essas características vai te ajudar a se apropriar cada vez mais desse esporte instigante. Até uma próxima! 

REFERÊNCIAS

COLLET, Carine; NASCIMENTO, Juarez Vieira do; RAMOS, Marcel Henrique Kodama Pertille; DONEGÁ, André Luiz. Processo de ensino-aprendizagem-treinamento no voleibol infantil masculino em Sana Catarina. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 18, n. 2, p. 147-159, 2. sem. 2007.

GONZÁLEZ, Fernando Jaime. Sistema de classificação de esportes com base nos critérios : cooperação , interação com o adversário , ambiente , desempenho comparado e objetivos táticos da ação. Revista digital - Buenos Aires, v. 71, p. 6-9, 2004.

GONZÁLEZ, Fernando Jaime; DARIDO, Suraya Cristina; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de. Esportes de marca e com rede divisória ou muro/parede de rebote: badminton, peteca, tênis de campo, tênis de mesa, voleibol, atletismo. Maringá: Eduem, 2014.

GINCIENE, Guy. IMPOLCETTO, Fernanda M. Primeiras aproximações para uma proposta de ensino dos jogos de rede/parede: reflexões sobre o tênis de campo e o voleibol. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 2019;27(2): 121-132.

SOUZA, Adriano José de. Ensinando e desenvolvendo o esporte na escola: o caso do voleibol. Universidade Estadual de Campinas, 1996.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Bem vindo(a)!

Olá! Meu nome é André Guths Kugler e sou formado em Licenciatura e Bacharelado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

Este blog tem como objetivo ser um espaço de discussão e reflexão sobre o voleibol, contribuindo para o desenvolvimento da modalidade no Brasil. Ele é destinado a professores, alunos, pais, treinadores, atletas, dirigentes esportivos, gestores, espectadores, simpatizantes da modalidade, pesquisadores, e todos os envolvidos diretamente ou indiretamente com o voleibol. 

Aqui você vai encontrar postagens diversas sobre minhas experiências como professor e treinador de voleibol, além de conteúdos científicos sobre essa modalidade esportiva instigante, desafiadora e fascinante!

Não deixe de comentar e interagir!

Aproveite e boa leitura!