O voleibol é considerado uma modalidade esportiva de aprendizagem complexa. Segundo Mesquita (1996), algumas das exigências impostas aos jogadores durante o jogo são: o olhar dirigido para cima, os contatos breves com a bola, a precisão técnica no contato com a bola para evitar o erro, o condicionamento das ações devido ao número limitado de contatos por equipe, a rapidez de análise e decisão, a movimentação condicionada nos planos frontal e lateral e a diferenciação de funções devido à rotação dos jogadores. Essas exigências imprimem uma série de dificuldades ao longo do processo de aprendizagem do voleibol. Vamos identificar algumas delas.
A primeira dificuldade encontrada no início do processo de aprendizagem do voleibol é manter a bola em jogo (rally). No voleibol, diferentemente dos esportes coletivos de invasão, não é possível reter a bola para si, o que dificulta a leitura do jogo e o controle da bola no ar. Aliado a isso, o sistema de pontuação é por rally. Isso significa que qualquer erro de um jogador ou da equipe confere o ponto ao adversário e interrompe o rally, gerando uma quebra frequente do fluxo de jogo. Essa quebra é altamente desmotivante e por isso deve ser minimizada no início do processo de aprendizagem para que os alunos possam apreciar o jogo e ter êxito. Em outras palavras, quanto mais tempo a bola ficar no ar, melhor. Para isso, o professor pode lançar mão de estratégias como a diminuição do tamanho da quadra, da rede, da bola, do número de jogadores e permitir que os alunos segurem a bola nos diferentes momentos do jogo até que eles desenvolvam os gestos técnicos do toque e da manchete e consigam controlar a bola no ar sem precisar segurá-la. É importante esclarecer que o erro deve ser minimizado e não extinto do processo. Errar faz parte da aprendizagem. Nesse sentido, cabe ao professor optar por estratégias condizentes com sua realidade e adequar as tarefas conforme as potencialidades e necessidades de seus alunos.
Uma segunda dificuldade encontrada durante o processo está relacionada ao fato das habilidades do voleibol serem consideradas não naturais ou construídas. A maioria delas é executada fora do plano familiar de manipulação dos objetos (planos baixo e alto) e exigem a adoção de posturas básicas fundamentais e movimentações específicas, o que as caracteriza como habilidades seriadas e complexas. Nesse sentido, é necessário um longo processo de aprendizagem para cada uma delas. Além disso, o voleibol é uma modalidade com habilidades motoras predominantemente abertas, ou seja, o ambiente está em constante mudança, fazendo com que os jogadores tenham que adaptar ou ajustar os movimentos e/ou respostas para atingir seus objetivos. Os jogadores precisam perceber as informações relevantes do ambiente, tomar decisões de forma rápida, servindo apenas do tempo em que a bola se encontra no ar, escolher a habilidade a ser utilizada para resolver o problema e executá-la proeficientemente. Nesse sentido, além do desenvolvimento dos aspectos técnicos (eficiência e eficácia), é imprescindível desenvolver os aspectos relacionados à tática (ajustamento e tomada de decisão) para um bom desempenho no jogo.
Outra dificuldade do processo de aprendizagem é a necessidade de organizar e gerir o espaço de jogo, juntamente com os companheiros de equipe, identificando as responsabilidades e funções em quadra conforme as posições. É comum alunos iniciantes adotarem uma postura estática em quadra e não irem ao encontro da bola (jogo estático), ou até mesmo, buscarem intempestivamente a bola (jogo anárquico) sem nenhum tipo de relação no espaço. Nesse sentido, o posicionamento em quadra, a identificação das zonas de responsabilidade e de conflito e as ações sem bola são aspectos fundamentais que precisam ser trabalhados desde o início do processo para que os alunos desenvolvam uma boa relação no espaço e tenham qualidade nas ações.
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